Ao longo da trajetória como motorista por aplicativos muitas situações excêntricas ocorrem. Mas, transportar pessoa com Doença de Alzheimer, desacompanhada é bem anormal.

Permita-me relatar:

Certo dia, em Santo André, aceitei uma corrida e esperei um pouco em frente a um prédio. Duas mulheres chegaram à portaria. Porém, uma delas se despediu e retornou para dentro e subiu, enquanto a outra embarcou no carro, seguindo viagem, junto comigo. Inclusive, segundo ela mesma, ela ia para casa de uma amiga. Até aí tudo bem, ela conversava normalmente, e até ia ensinando o caminho. Minutos depois, conversa-vai-conversa-vem, ela desabafou:

-“Eu tenho Alzheimer”.

Minha reação foi de muito espanto! Pois, é incrível que uma pessoa assim possa ensinar caminho tão bem, afinal o percurso levava quase 30 minutos.

Ela me explicou que ela descobriu cedo e já iniciou tratamentos, que tomava remédios nos horários devidos e isso retarda o avanço da doença.

Então, quando estávamos quase chegando no local de destino, ela ficou confusa e não lembrava muito bem mais onde era a residência que queria ir. Nesta hora, mantive a calma, me concentrei no GPS e conduzia nossa conversa de maneira apaziguadora para deixá-la segura. Mesmo assim, em meio as suas confusões mentais eu acabei errando algumas ruas, por sugestões dela e, aí realmente a “ficha caiu”, ela não estava blefando e realmente sofria dessa tal Doença de Alzheimer.

Por fim, ela desceu do carro, tocou a campainha, a amiga veio recebê-la e elas entraram.

Eu não consegui prosseguir e aceitar outra corrida logo na sequencia, porque me sensibilizei e chorando não tinha como dirigir. Para mim não havia possibilidade de não me emocionar, pois a minha avó também é portadora de DA, me identifiquei com o caso e até ao escrever eu revivo aquela tristeza.